Paradigma da Totalidade: O caminho da natureza para uma vida saudável.

O homem contemporâneo vive um grande dilema existencial. Esse impasse é de ordem paradigmática em relação ao melhor caminho para a manutenção da saúde, para a promoção do bem-estar e para alcançar a felicidade.

Indicar um caminho que nos propicie viver melhor e com mais saúde implica em múltiplas questões acerca de como percebemos a vida e de como compreendemos a realidade do mundo no qual vivemos. A complexidade existencial é própria da natureza humana, porém, na atual conjuntura paradigmática social que estamos submetidos, é muito difícil discernir sobre o que é bom, o que é menos ruim ou o que é totalmente deletério para a nossa vida.

O ser humano é parte integrante e indissociável da natureza, e não apenas senhor dela. Ao tentar “dominar” a natureza em nome do progresso e do desenvolvimento, a mão do homem tem provocado muitos desastres ambientais e ameaçado a integridade humana.

A ciência moderna é fundamentada em evidências da experimentação, da dedução lógica e do pensamento racional, com o objetivo de analisar o mundo e os indivíduos em sociedade. Todo o desenvolvimento humano, no plano material, deve-se a esse extraordinário modelo. Entretanto, tal modelo materialista, baseado no dualismo cartesiano e no mecanicismo newtoniano, não tem atendido às mais simples necessidades existenciais do homem contemporâneo.

A separação da unidade corpo-mente, que é um dos entendimentos do modelo científico, tem alimentado desprezo e descuidado com temas subjetivos da existência humana. A fragmentação do conhecimento para se entender o todo, em que pese a sua eficácia na esfera pragmática do desenvolvimento cientifico, é um outro problema que tem relegado a segundo plano questões como a compreensão da essência da vida humana e de como é fundamental o fomento da integração do corpo-mente-energia-espirito. Essa integração tem a mesma identidade das dimensões indivisíveis da natureza e do universo.

O modelo mecanicista, materialista e “cientificista”, devido a não percepção do homem como um todo, tem subestimado temas como saúde, bem-estar e felicidade humana e se concentrado nas demandas das necessidades materiais, mas sem entender os aspectos afetivos e humanistas existenciais. O mesmo acontece com a medicina e as ciências da saúde, as quais impuseram aos seus profissionais um treinamento técnico eficiente em um aspecto, porém sem nenhum compromisso com o humanismo, transformando “doutores” em meros técnicos, que tratam o enfermo como uma “máquina quebrada ou desajustada”.

A medicina convencional, dessa forma, tem enfatizado os seus estudos nas doenças, mas não nos doentes, uma vez que ignoram os processos patológicos disfuncionais de planos subjetivos, que se processam em esferas mentais, energéticas e socioambientais, transcendendo a competência desses profissionais.

A mentalidade pragmática da medicalização da vida é um monumental engano, tornando os profissionais da saúde, principalmente da medicina, em reféns das grandes corporações industriais farmacêuticas e dependentes de um sistema que traz um grande prejuízo, seja econômico ou seja de reais riscos à saúde das pessoas. Por este e outros motivos é que a Organização Mundial da Saúde (OMS), mediante diretrizes, tem preconizado o aproveitamento das medicinas tradicionais de países e povos no âmbito das políticas nacionais de saúde de seus países-membros. Tais recursos terapêuticos são estratégicos para atenuar o sofrimento de milhões de pessoas e para minimizar o colapso sanitário dos países mais pobres ou em desenvolvimento, nas esferas de sustentabilidade em saúde, que implica na diminuição dos custos de insumos e de medicamentos, incluindo o custeio com outros procedimentos terapêuticos e diagnósticos.

No Brasil, desde 2006, tem sido promovida uma política de atenção básica em saúde chamada Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), no Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, tal política, como era de se esperar, tem sofrido contestação de segmentos médicos conservadores e daqueles que representam os interesses das indústrias farmacêuticas, que imaginam ter prejuízos com a diminuição de seus lucros.

Não obstante as críticas infundadas do Conselho Federal de Medicina, tais preconceitos com o emprego das terapias não convencionais ou alternativas no serviço público têm revelado um grande conflito paradigmático: de um lado, o paradigma biomédico, organicista e fragmentado; de outro, o paradigma sistêmico, holístico e integrado. Assim, constata-se dois olhares diferentes e divergentes acerca da doença, do adoecimento e da própria vida humana.

As terapias integrativas e complementares não focam apenas na cura das doenças físicas, mas, sobretudo, nos cuidados com os processos de desarmonia psico-energética, nas disfuncionalidades e deficiências humanas, e nas expressões mais sutis dos desajustes do comportamento humano em conflito com o meio ambiente. Obviamente, o médico alopata, sem conhecimento dessa visão humanista e integrativa da vida humana, jamais poderá conceber a riqueza e a amplitude clínica dessas terapias, tais como a Acupuntura, Homeopatia, Ayurveda, Fitoterapia e mais 25 recursos terapêuticos, todos eles albergados pelo Ministério da Saúde, que conta com o apoio incondicional da população brasileira e com o reconhecimento dos demais profissionais da saúde.

O sistema integrado ou holístico pode e deve colaborar com o sistema biomédico, desde que não haja o desvirtuamento dos princípios que forjaram as práticas integrativas por muitos séculos, e que se fundamentam no humanismo e não apenas no tecnicismo. Ao adotar esse caminho é possível gerar uma grande economia de recursos e uma expressiva redução de riscos à saúde humana, além de otimizar a atenção básica de baixa complexidade e minimizar os procedimentos de média e alta complexidade. Essa é a verdadeira medicina preventiva e o melhor sistema de promoção de saúde e bem-estar.

Por derradeiro e oportuno, vale a pena mencionar o grande cientista Albert Einstein, que em sua celebre apreciação sobre a ignorância humana, disse: “Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso, o universo de cada um, resume-se ao tamanho de seu saber”.

Dr. Sohaku Bastos:


• Fundador e Diretor-Geral do Sistema Educacional ABACO/CBA.
• Diretor Institucional da UNIBAHIA e Faculdades Integradas.
• Presidente da Federação Brasileira das Sociedades de Acupuntura e Práticas Integrativas em Saúde (FEBRASA).
• Diretor para o Brasil da World Federation of Acupuncture and Moxibustion Societies (WFAS), em relação oficial com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
• Membro Titular da China Association of Acupuncture and Moxibustion, do Governo da Rep. Pop. da China. (CAAM).
• Membro Acadêmico da World Federation of Chinese Medicine Socities (WFCMS).
• Ex-Conselheiro de Educação do Governo do Estado do Rio de Janeiro (Câmara de Educação Superior e Profissional).

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